Nos últimos anos, muitas mães têm entrado em contato com o mundo canábico através da busca de tratamento e informação, seja por necessidade própria ou dos filhos e familiares.
É por isso que nós, aqui da Linha Canabica, queremos trazer um conhecimento cada vez mais acessível e detalhado – e mostrar como a Cannabis não é um bicho de sete cabeças.
Hoje, no Dia das Mães, conheceremos um pouco da história das mulheres (e deusas) que exploraram essa planta ao redor do mundo. Aposto que você nem imaginava essa jornada. Bora lá?
Desde o mundo antigo
A Cannabis está com a humanidade há tanto tempo que já perdemos a conta. Algumas estimativas falam de 6000 a.C, outras de 10.000 a.C – até registros de 25000 a.C já foram associados à planta. Isso nos mostra que, infelizmente, boa parte da história humana com a maconha pode ter se perdido no tempo – ela era tão difundida em diferentes sociedades que fica difícil traçar um caminho exato. Seria o mesmo que perguntar “quando começamos a andar em pé?” . Olha, se tem uma coisa que os cientistas concordam é que tem tempo, viu.
Magu – China (pelo menos 2000 a.C)
(Representação da imortal Magu, século XVIII)
Parte da mitologia taoista chinesa sobreviveu nos textos modernos, e uma certa mulher aparece centenas de vezes. Chamada de Magu (麻姑), a entidade é representada por uma moça jovem que carrega diversas plantas – associada com a imortalidade e a cura de todos os males. Magu significa literalmente “donzela do cânhamo” – Ma (麻) é o ideograma para a Cannabis em diversas variações do idioma.
Não é nenhuma novidade que os chineses conheciam o cânhamo – principalmente sua utilização para fibras e cordas. Mas as farmacopeias chinesas já de 500-200 a.C apresentam seus efeitos contra a “náusea” e a “infertilidade”.
Assim como muitas outras plantas, é provável que suas propriedades terapêuticas tenham sido descobertas e aplicadas inicialmente por mulheres no período neolítico – ainda que a datação seja nebulosa. Mas a associação da Cannabis com o mundo feminino e a Magu caminha até hoje – uma rápida conversa com qualquer taxista em Taiwan, em 2021, pode resumir a história da “deusa” com detalhes.
Ishtar – Mesopotâmia – (pelo menos 3000 a.C)
Representação de Ishtar (1800-1700 a.C), hoje no British Museum.
Ishtar ou Inanna é uma figura da mitologia suméria e acadiana que começa sendo pouco venerada, mas rapidamente se torna presente de forma massiva conforme chega 400-200 a.C. É uma entidade conectada às mulheres – mas principalmente à força do combate, como seria Afrodite na tradição grega. Elas compartilham a coruja na simbologia.
Seja no mundo Assírio ou Acadiano, existem milhares de menções a Ishtar e seu poder sobre a fertilidade, o sexo e a guerra. Não existe separação entre o sucesso no mundo espiritual e material nessa época, a batalha também é sempre no outro mundo.
O uso medicinal da Cannabis na Suméria é reconhecido pelos assiriologistas, que debatem mais extensamente sobre qual foi sua duração, e não sobre sua presença. Mesmo que a maior parte do uso fosse para a confecção de fibra, a presença de referências à planta em escritos médicos não é uma exceção. E os deuses aparecem também nesses tabletes.
Inanna provavelmente seria uma das deusas que atuaria sobre a cura e a reprodução da mulher, referenciando inúmeras ervas e incensos. Ela aparece como uma mulher mais velha e costuma atuar contra os outros deuses com muita perspicácia.
Parto, cólica e inflamação – Egito (4000 a.C em diante)
Manuscrito do Ebers Papyrus (1500 a.C), herbário e manual médico egípcio. A maconha aparece explicitamente nesse texto. Universidade de Leipzig.
No Egito, o uso de Cannabis especificamente para mães era uma constante – pelo menos é o que apontam os textos de medicina escavados até hoje.
Mais de um documento histórico aponta para uma descrição precisa da Cannabis no trabalho de parto e também para as cólicas e náuseas da gravidez. Alguns manuais indicam uma mistura de ervas que deveria ser inserida no canal vaginal para facilitar a dilatação e a saída do nascituro. Esse chumaço também poderia ser usado como forma de alívio para a dor. Até mesmo para o tratamento de hemorroida por diferentes origens essa técnica foi apontada.
Outros textos mais tardios citam o clássico uso para cordas e tecidos, incluindo um também um certo tratamento para o cansaço e dor na vista. Curiosamente, hoje o tratamento de glaucoma com a planta já está estabelecido e comprovado.
Na verdade, talvez a presença da Cannabis no Egito tenha até mais implicações. Um mistério ainda não resolvido é a relação da deusa Seshat (ligada à astronomia, escrita) com seu símbolo característico, que geralmente aparece acima da cabeça. Os egiptologistas ainda debatem sobre seu significado, que pode ter inúmeras conexões. Ele aparece em vários hieróglifos e representações de Seshat.
Rainhas da Inglaterra – Elizabeth I e Vitória (séc XVI e XIX)
Dando um salto histórico para a Inglaterra moderna, encontramos duas rainhas da Inglaterra que utilizaram a Cannabis em diferentes contextos. A primeira viveu no tempo de Shakespeare e das navegações – a segunda no alvorecer industrial e conservador vitoriano.
Elizabeth não parece ter deixado herdeiros, demonstrado pela sua alcunha de “a virgem”. Ainda assim, seu reinado foi marcado pelo florescer do drama de Shakespeare, que também fumava a erva como muitos outros. Ela inclusive obrigou todos os colonos fazendeiros na América do Norte a plantarem cânhamo para a marinha, prática de extrema importância econômica.
Mas a história interessante mesmo é da outra rainha – Vitória (1819-1901) reinou numa era de explosão do comércio a nível global através da exploração colonial e da indústria. Com isso, chegava nas metrópoles europeias os primeiros preparos médicos farmacêuticos, muitos deles com princípios ativos de plantas que eram originárias da conquista colonial.
A rainha parece ter experienciado ao longo da vida muitas dores menstruais que se acirraram com enjoos na gravidez – e existe a chance de ter sido tratada com Cannabis.
Especula-se que as dores excessivas envolvam, em algum nível, os casamentos internos feitos entre famílias da nobreza, o que pode gerar problemas congênitos e maternidades de risco. Vários dos filhos de Vitória vieram do casamento com seu primo.
E para a medicina da época, uma das respostas era a maconha. O médico Sir J. Reynolds que tratava a corte era um proponente ferrenho do uso medicinal na época, como muitos médicos e associações. Ele só trabalhou para a coroa depois dos 60 anos de Vitória – mas não é improvável que antes dele outros tenham prescrito uma tintura de cannabis para as dores da rainha. Esses fármacos eram vistos como um orgulho da civilização europeia à época, pois representavam a conquista da ciência, do mundo e dos “povos bárbaros”.
E hoje?
A pauta de saúde e bem-estar em mulheres e mães têm conquistado espaço nos últimos tempos. Ainda mais no mundo canábico, quando internacionalmente já se desenvolvem produtos especificamente voltados para as mais diversas necessidades. Produtos que vão desde a saúde íntima até o cuidado da pele, passando por cremes, essências…
A atriz Whoopi Goldberg é embaixadora de uma linha de produtos canabicos para o mundo feminino.