📈 Uma informação que você talvez não saiba: o Brasil é o maior exportador e produtor de café do mundo. Também somos ávidos consumidores da bebida: não há nada mais brasileiro do que tomar “um cafézinho” – prática que virou regra de etiqueta país afora, seja para receber visitas ou amigos. O café é a porta de entrada da casa – assim como de saída.
A história do Brasil moderno e o café se confundem. Correndo o risco da simplificação, podemos dizer que o café foi o passaporte de entrada do Brasil na orquestra das nações. Isso fica evidente quando olhamos para o século XIX: a produção de café baseada na escravidão negra permaneceu firme por quase todo o século, principalmente após a independência. Até no governo Getúlio Vargas, quase 110 anos depois, o poder dos cafeicultores era central na política de alianças. Mas vamos com mais calma…
☕ Então pode pegar aquele café – do jeito que você preferir – e senta um pouco pra conhecer como utilizamos essa planta riquíssima até hoje!
🔍 E, de quebra, vamos ver como é impossível não pensar naquela outra planta 🍁 que você está pensando, belê?
Símbolo nacional
Repare bem: a bandeira do Império do Brasil é apenas ligeiramente diferente da nossa. No lugar do globo com as estrelas da federação, tínhamos um escudo. Esse era o símbolo da Casa de Orléans e Bragança, ramo dinástico francês que constituía a monarquia no país. Até hoje alguns herdeiros dessa linhagem reivindicam o trono do país, mesmo sem possuir validade jurídica alguma.
Mais interessante é aquilo que está nas bordas do escudo: um ramo da planta de café. Com atenção, é possível perceber os pequenos frutos avermelhados na margem esquerda. Reparou?
O Brasil já havia sido conhecido por cultivar tabaco, cana-de-açúcar, algodão… mas foi a planta de café que ganhou um espaço no símbolo máximo do recém-independente país, a bandeira que representava a própria monarquia.
Conforme mergulhamos na história, enxergamos o tamanho dessa importância. Talvez a pauta mais central na política do Brasil Império, a escravidão negra, era na prática uma forma de pensar a própria economia do país. Isso porque a escravidão era o motor da plantation de café, sistema responsável por boa parte do fluxo comercial no atlântico e, portanto, no Brasil.
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Em resumo, a queda da escravidão também é a queda da monarquia. D. Pedro II buscou sustentar a instituição até o último segundo, quando a pressão internacional já somava com o forte movimento abolicionista interno. A razão disso está na própria sustentação do monarca: sua base era formada principalmente pelos proprietários escravistas e produtores de café. Na prática, o café e seus fazendeiros eram tão importantes que, com a saída do rei, se rearticulam sem dificuldades no novo governo. O rei sai, eles ficam.
Entramos na era republicana – a chamada “república velha” – quando é justamente o protagonismo dos cafeicultores de São Paulo que dará as cartas do jogo político. Esse momento histórico também é lembrado como república do “café com leite”.
Mesmo com o fim da escravidão, a produção cafeeira se sustentou inicialmente atráves de um regime de colonato. Posteriormente, o trabalho assalariado foi sendo integrado, mas com condições bastante próximas da escravidão. Existiu também uma política sistemática de imigração europeia para trabalhar nessas fazendas, fazendo jus ao processo de embranquecimento tão debatido na época. A população negra agora era número 2 na fila do emprego, só que para cumprir o mesmo cargo.
Quando a crise econômica de 1929 se aproximou do país, estávamos em outra transição política. Em 1930, depois de uma eleição conturbada, temos um golpe de Estado que instaura o governo provisório de Getúlio Vargas – apontando mudanças e permanências. Entre as coisas que permaneciam, com certeza uma era o café.
Mas não sem pagar por isso: o Brasil produzia tanto, mas tanto café que, em 1931, foi necessário queimar 70 milhões de sacas por causa da queda súbita nos preços. A ideia era elevar o preço da commodity no mercado internacional. O sucesso dessa atitude foi, digamos, questionável.
E não era a primeira vez que o Estado brasileiro agia para salvar os produtores de café – desde a Convenção de Itu, em 1870, pensava-se em formas de amenizar os prejuízos de grandes fazendeiros nos cenários de instabilidade. Na verdade, seria impossível listar as incontáveis vezes em que a sociedade buscou socorrer os seus próprios carrascos. Mas essa história fica para outro dia…
💬 O que toda essa jornada com o café pode nos dizer sobre a situação do país? Ainda mais: sobre o futuro de outra planta, a Cannabis?
Sem desperdício: caule, folha e fruto
Apesar de uma longa trajetória com o poder no país, é inegável: o café é uma planta riquíssima. Mesmo que vejamos os problemas nos latifundiários, sua forma de produzir e lucrar, devemos lembrar que essa é a parte humana da receita. O café está nesse circuito econômico justamente por sua versatilidade e importância. O que importa é como plantamos.
As aplicações são inúmeras – desde a sua raiz, passando pelo caule, folhas, sementes, frutos… cada centímetro da produção cafeeira é utilizada no mercado. Hoje, é possível encontrar café em fórmulas de cosméticos (shampoos, hidratantes, loções), alimentícios (bebidas, temperos, energéticos), roupas, fertilizantes, combustíveis (biomassa) e muito mais. Com o avanço da pesquisa científica a tendência é a multiplicação cada vez maior desses usos.
Não só isso – vimos a importância dessa commodity para a construção do país. Do solo das fazendas, o café chegou à bandeira nacional, sendo o principal símbolo econômico da brasilidade…
A Cannabis poderia ser como o café. Uma planta que é utilizada inteiramente pela economia – do setor farmacêutico ao energético, o seu potencial já está sendo explorado por outros países. Com certeza, o futuro da produção agrícola mundial dependerá da maconha, que já é uma das commodities de maior valor agregado por espaço de cultivo, por exemplo.
Como o café, a maconha poderia ser o nosso passaporte, um convite de entrada no jogo internacional de produção, pesquisa e aprimoramento da agricultura moderna. O Brasil desperdiça diariamente seu potencial agrícola em grandes latifúndios de criação extensiva de gado, soja, laranja, algodão – por que não transitar para um cultivo sustentável de Cannabis?
Restará saber se seremos meros clientes dessa indústria global – já que poderíamos estar desenvolvendo a nossa própria – gerando renda para o mercado interno e regulamentação para a pesquisa pública. Mais importante: priorizando a população que cultiva e trabalha, não apenas alguns grandes barões da nova Avenida Paulista, o crescente mercado canábico.
Afinal, por que deixar todos esses frutos na mão da ilegalidade?
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