A cannabis é uma planta com características peculiares, que a destacam no reino vegetal, proporcionando uma relação íntima com a humanidade, que remonta ao surgimento e desenvolvimento das primeiras civilizações (ROBINSON, 1999)
Através do trabalho de Robinson (1999) é possível evidenciar vestígios da intimidade da cannabis com a história da alimentação, e constatar como essa planta se tornou um dos motores econômico para desenvolvimento das primeiras cidades, inclusive, dados arqueológicos indicam que seu uso coincide com o surgimento da agricultura, sem mencionar a sua fundamental função para as grandes navegações do século XV.
Os indícios de uso da cannabis na alimentação, estão atrelados historicamente com aspectos religiosos, culturais, terapêuticos e como alimento básico para sobrevivência de determinado povo, estando presente em diferentes culturas, surgindo, desaparecendo e ressurgindo em diferentes momentos da história (ROBINSON, 1999).
Logo, se faz necessário redescobrir alguns aspectos da história deste vegetal, para compreender a sua perspectiva diante da gastronomia contemporânea. Segundo Robinson (1999), a cannabis estava presente nos primeiros textos médicos da farmacopeia chinesa Pen-Ts’ao Ching compilada entre os séculos I e II a.C., aonde se prescrevia com finalidade medicinal, o uso das sementes de cannabis como base para mingaus, e também vinhos produzidos com as flores da planta.
Na cultura chinesa, o mingau da semente de cannabis além da função terapêutica, era usado como item na dieta básica da 13 população, tendo seu fim por volta do século VI, sendo substituída por grãos menos oleosos, e consequentemente suas propriedades nutricionais foram esquecidas ao longo do tempo.
O autor Araujo (2014) relata que os Romanos só faziam uso recreativo da planta em ocasiões isoladas, sendo pouco valorizada no sentido literal de droga. Entretanto, Robinson (1999) aborda vestígios históricos a partir das observações do médico Galeno (c. 130-200 d.C.), no qual enquadra os antigos romanos como apreciadores da pastelaria e vinhos produzidos com cannabis, existindo evidencias arqueológicas de que estes tenham impulsionando grandes campos de cultivo da planta na Europa.
Os indianos exportaram para o mundo a bebida sagrada chamada de bangue, feita basicamente com leite e cannabis, combinada com uma infinidade de especiarias e outros ingredientes como álcool e manteiga, conforme a reprodução de Gottlieb (1993). O autor Robinson (1999) relata que a bebida é amplamente consumida na noite de Shiva (Shivram) principalmente pelos adeptos do hinduísmo, onde o costume consiste em ofertar manteiga e leite de cannabis as divindades, e ao final do evento existe a tradição de se receber os parentes e visitantes oferecendo uma taça da bebida bangue acompanhada dos doces majoon
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No século X, a bebida extrapolou os limites de uso cultural na Índia, se tornando objeto do tratado de Anandakanda, onde segundo Robinson (1999), foi firmado pela comunidade cientifica do país, para compilar 50 preparados de bangue diferentes, com propriedades terapêuticas também diferentes, “ um anseio por bangue prenuncia felicidade.” Um texto hindu do século XVII Rajvallabha, confirma que o consumo desse alimento dos deuses gera energia vital, amplia os poderes mentais e produz deleite para Shiva.” (ROBINSON, 1999. Página 53).
O autor Robinson (1999) relata que a planta esteve presente na farmacopeia Brasileira até o início do século XX, tendo seu uso medicinal difundido pela população em infusões e cigarros, porém, pouco estudada pela medicina nacional, muito pelo contrário, os primeiros estudos brasileiros feitos por Dória (1915) e Iglésias (1918), enfocam na relação da planta com a morte, o vício e a loucura.
Entre as inúmeras aplicabilidades da cannabis abordadas por Robinson (1999) em sua obra, é possível destacar o uso religioso, ambiental, industrial, recreativo, terapêutico e como ingrediente alimentício, sendo esta última aplicabilidade inerente a gastronomia, uma ramificação da ciência, pouco reconhecida nos estudos sobre a planta, pelo menos no Brasil, no qual foi tomado como amparo para conduzir esta investigação gastronômica, os estudos de Gottlieb (1993), Robinson (1999), Moriarty (2010) e Araujo (2014)
Atualmente, existe uma grande gama de livros estrangeiros de culinária com cannabis, publicados por autoridades no tema como Gottlieb (1993) e Moriarty (2010). O trabalho destes autores, consiste no reflexo da onda de interesse científico pela planta no começo da década de 1990 até 2004, onde vários estudos, sobre vários aspectos da planta foram conduzidos pela comunidade acadêmica em todo o mundo, inclusive, com abordagens sobre a alquimia das substâncias produzidas pela planta e os fenômenos químicos decorrente de sua inserção como ingrediente culinário.
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