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Dia Mundial da Alfabetização e Autismo: educar como ato político

Dia Mundial da Alfabetização e Autismo: educar como ato político
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O Dia Mundial da Alfabetização, criado pela Organização das Nações Unidas e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura em 8 de setembro de 1967, é comemorado anualmente nesta data e tem como objetivo convidar toda a sociedade à reflexão sobre a importância da alfabetização para o mundo.

A UNESCO define a magnitude da data quando ressalta o compromisso de lembrar o mundo sobre a importância da alfabetização como uma questão de dignidade e direitos humanos. Apesar dos progressos feitos ao longo dos anos, cerca de 773 milhões de adultos em todo o mundo ainda não dominam as competências básicas em escrita e leitura.

Assim, costuma-se, na semana de 8 de setembro, motivar a discussão sobre a importância de incentivar as atividades e processos relacionados à aquisição da capacidade de ler e escrever, despertando, também, a necessidade de se engajar na luta contra o analfabetismo, sobretudo porque as suas taxas ainda são significativamente altas em vários países do mundo.

Estimula-se também que haja uma perspectiva ampla sobre os processos de aquisição da leitura e escrita e as razões de falar na educação como um ato político e emancipatório. Pensando nisso, convido você, leitor(a) ao mergulho nessa discussão sobre alfabetização e autismo.

Já parou para pensar como se dão os processos educacionais de crianças autistas?

Separei alguns tópicos para fundamentar essa leitura. Sente-se em um local confortável, relaxe os ombros e navegue comigo nesse mar de palavras. 

O papel político da educação

A Pedagogia é entendida como a ciência que abarca os processos de ensino e aprendizagem. Dentro dos muros do ambiente formal de educação as crianças são diversas. Diferentes idades, etnias, processos de identidade e leituras de mundo. Os processos de aquisição da leitura e escrita estão de mãos dadas com todos esses itens aqui mencionados. Afinal, ser e estar no mundo não são pontos que se desassociam.

Paulo Freire, o patrono da educação brasileira citava em suas obras a importância de educar para transformar as estruturas sociais.

Quem foi Paulo Freire?

Nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério.

Suas ideias pedagógicas se formaram na observação da cultura dos alunos – em particular o uso da linguagem – e do papel elitista da escola. Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar.

Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. 

A escola democrática, para Freire (2001, p. 85-91), deveria enfatizar a prática ao incitar a participação, a ingerência e o diálogo; com atividades plurais, ela deveria ser uma comunidade do trabalho e do estudo, privilegiando o trabalho em grupo e a pesquisa. Deveria fazer o aluno “aprender a aprender” ao enfrentar as dificuldades, resolver questões, desenvolver hábitos de solidariedade, de participação, de investigação e, ainda, criar disposições mentais críticas e oportunidades de participação no próprio comando da escola, tendo o autogoverno como uma das principais preocupações. Portanto, as tarefas fundamentais da educação, sob as condições faseológicas, seriam criar disposições mentais no homem brasileiro, críticas permeáveis, com que ele pudesse superar a força de sua “inexperiência democrática” (FREIRE, 2001, p. 79).

Paulo Freire, neste contexto, preocupava-se com a educação existente, excludente e autoritária, incapaz de desenvolver no homem as características necessárias à sociedade em desenvolvimento e à abertura democrática. Ao enfatizar a importância de uma reforma total da escola brasileira, Freire (2005, p.87; 1982, p. 94) afirmava que a sociedade tinha um duplo desafio: erradicar o analfabetismo para o desenvolvimento técnico e para a participação política em uma sociedade em pleno desenvolvimento econômico; e a erradicação da “inexperiência democrática” brasileira, por meio de uma educação para a democracia numa sociedade que se democratiza. A questão colocada era a luta pela democratização do ensino e por uma educação democrática a favor do desenvolvimento da sociedade

Entendendo o TEA — Transtorno de Espectro Autista

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que o autismo afeta uma em cada 160 crianças no mundo. A condição chamada de transtorno do espectro autista geralmente tem início na infância e persiste durante a adolescência e vida adulta. A agência da ONU diz que várias pesquisas científicas sugerem a existência de muitos fatores que podem deixar a criança mais propensa ao autismo, incluindo questões ambientais e genéticas.

As principais características comuns no autismo são problemas na comunicação verbal e não verbal que comprometem a interação social. Além disso, comportamentos repetitivos e interesses restritos também são características comuns no autismo. O problema da linguagem no autismo está relacionado aos déficits de comunicação, que prejudicam a interação social. As crianças com autismo têm muita dificuldade em decifrar signos sociais e entender o contexto, o que dificulta o contato e as relações com o outro.

O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, apresenta sinais durante o desenvolvimento da criança. É importante que pais e profissionais de educação atente aos sinais, porque o diagnóstico precoce facilita que a criança receba a estimulação adequada.A falta de contato visual e o atraso na fala, por exemplo, são importantes indícios para o diagnóstico de autismo, podendo ser detectados antes dos dois anos

  • Alfabetização e crianças autistas: aceitação da diferença como algo positivo.

Três fundamentos teóricos foram propostos pela comunidade científica para explicar as especificidades e os desafios que indivíduos com TEA apresentam na compreensão da leitura: 

(a) a Teoria da Coerência Central; (b) a Teoria da Disfunção Executiva; e (c) a Teoria da Mente (NGUYEN et al., 2015). 

Coerência Central é a habilidade de coligar detalhes em um só conceito ou ideia. Essa habilidade é considerada deficitária em pessoas com TEA, uma vez que tipicamente evidenciam um estilo de processamento de informações focado em minúcias, depreciando a capacidade de compreensão global de fenômenos (NGUYEN et al., 2015). Com base nesse postulado, o indivíduo com TEA demonstraria prejuízos na compreensão da leitura por apresentar problemas em resumir, destacar os pontos mais relevantes de um texto, assim como compreender as suas ideias centrais. Em outras palavras, falham em desenvolver, de forma espontânea, habilidades metacognitivas de leitura, que auxiliam na compreensão textual. 

O segundo fundamento teórico, denominado Teoria da Disfunção Executiva, sugere que essa população apresenta dificuldades em organizar, planejar e monitorar comportamentos (NGUYEN et al., 2015). Esse déficit tipicamente impacta a compreensão leitora, uma vez que interfere nas habilidades metacognitivas como a capacidade de organizar informações (ex.: sequenciar os eventos em uma história), planejar (ex.: integrar informações de múltiplas fontes, incluindo conhecimento prévio) e monitorar a compreensão leitora (ex.: criar imagens mentais, discutir, sumarizar informações lidas). 

O terceiro modelo sugere que a pessoa com autismo apresenta dificuldades em compreender a perspectiva alheia. Essa atipicidade, conhecida como Teoria da Mente Deficitária, impossibilita o autista compreender que os seus pensamentos diferem dos pensamentos e intenções de outras pessoas. Com base nesse postulado, esse indivíduo apresentaria prejuízos na compreensão leitora por manifestar déficits particularmente na identificação de estados mentais dos personagens e dificuldades em fazer predições/inferências sobre as suas ações (EL ZEIN et al., 2014).  

“Conhecendo as principais características comuns do autismo, é o momento de conhecer o seu aluno. Conhecer o seu comportamento, conversando com a família e profissionais, é muito importante para o processo de alfabetização.” define o instituto NeuroSaber

Além disso, é necessário conscientizar os pais sobre o processo de alfabetização, promovendo uma educação acolhedora e participativa. As atividades estruturadas sequenciadas, com instrução explícita e altamente visuais, favorecem o entendimento das crianças com autismo. É interessante que haja a participação da família incentivando a utilização de leituras que tenham ligação com a realidade de vida das crianças. 

O mais importante é trabalhar sempre com instrução explícita e apoio visual. A alfabetização no TEA não é diferente, apenas são necessárias algumas adaptações nas estratégias. O mais importante é conhecer as características de cada aluno e considerar suas dificuldades e habilidades no planejamento pedagógico. Acolher, escutar, promover a participação e acima de tudo, não resumir a criança diante de um diagnóstico. A infância deve ser entendida como uma fase de possibilidades múltiplas de ensino e aprendizagem. Como citou o célebre patrono da educação, Paulo Freire ““não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes”

De gota em gota: o óleo Full Spectrum CBD como um instrumento de afirmação

 

“Meu nome Elisabete Alvim tenho  53 anos quando me tornei mãe do meu segundo filho, Arthur, tinha 40 anos. Foi uma gravidez muito tranquila, sem nenhum problema meu e nem do bebê. Todos os exames ótimos. A bolsa estourou, não entrei em trabalho parto e fiz uma cesária. Arthur mamou até os 9 meses, não rolou e nem engatinhou. Ficou de pé,  andava segurando os móveis. Andou sozinho aos 1 ano e 5 meses. Aos 2 anos começou a apresentar comportamentos diferentes: movimentos com as mãozinhas balançando, um dia pulou em frente da TV, 50 minutos sem parar, andava na ponta dos pés e mordia as mãos quando estava ‘nervoso”.

“Então a caminhada começou: pediatra, neurologista, geneticista onde foi e as famosas medicações alopáticas que deixavam ele dopado. Conheci a Cannabis através da Dra Barbara através de uma terapeuta e amiga do Arthur, onde houve uma melhora muito significativa e notável por todos. Consequentemente muitas coisas mudaram em nossa vida em relação a esse progresso. Hoje Arthur diminuiu muito as investidas de pegar no cabelo das pessoas na rua”

Percebo em Arthur a melhoria da atenção em relação às solicitações, atenção ao meio, interação com as pessoas, responde quando solicitado, consegue compreender os comandos, consegue ficar mais tempo sentado coisa que não fazia antes. Aula online melhora muito grande na participação e fica sentado. Responde a professora quando ela pergunta. Houve um avanço nos aspectos da memória, observo esperteza e consegue se lembrar de muitas coisas do tipo: onde guardou isso ou aquilo; reconhece as tias da terapia e sabe alguns nomes. Melhora nas atitudes, independência e em pedir pra fazer as necessidades fisiológicas. As gotas do óleo Full Spectrum CBD ajudam Arthur nos seus processos de reconhecimento e de avanço.” 



Referências

NUNES, Débora Regina de Paula. Elizabeth Cynthia. Processos de Leitura em Educandos com Autismo: um Estudo de Revisão. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbee/v22n4/1413-6538-rbee-22-04-0619.pdf

Página oficial do Dia Internacional da Alfabetização (unesco.org)

FREIRE, P. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982b. _______. Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo. In: FÁVERO, Osmar (Org.). Cultura popular e educação popular: memória dos anos 60. Rio de Janeiro: Graal, 1983. p. 99- 126. 

Pedagogia da Esperança – Um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire, 254 págs., Ed. Paz e Terra


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Driele Amunã

Pedagoga Social, Pesquisadora no Campo do Ensino e Aprendizagem

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