Revelações recentes apontam que o médico Hans Asperger, um dos pioneiros nos estudos sobre o Autismo, tinha ligação íntima com o nazismo. Entenda detalhes neste texto.
As informações sobre a parcela da população brasileira diagnosticada com algum grau do Transtorno do Espectro Autista (TEA) são limitadas. O próximo censo nacional (que está em andamento) contará com questões para tentar mapear qual o tamanho da população brasileira que se enquadra no TEA.
Alguns dados que temos, de pesquisas regionais, nos dão uma ideia sobre a abrangência e o diagnóstico do Transtorno no país.
Um estudo realizado em São Paulo, em 2018, chegou a conclusão que as crianças são diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista quando estão, em média, com 4 anos e 11 meses e meio.
Em outro estudo regional, desta vez realizado no interior de São Paulo, pesquisadores chegaram ao número de 1 autista para cada 367 crianças. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), divulgados em 2017, apontam que uma em cada 160 crianças no mundo estão no Espectro Autista.
Se hoje em dia a vida de crianças com TEA e seus parentes não é nada fácil, imagine se voltarmos na história e analisarmos como eram as coisas em épocas onde o conhecimento e acesso à saúde eram ainda mais precários?
Como era viver com o Transtorno do Espectro Autista na época do Nazismo? Vamos entender a seguir!
Autismo e Nazismo: o destino cruel das crianças na época
Como já se pode imaginar, a vida de quem convivia com algum grau de TEA não era nada fácil na época do regime nazista. O diagnóstico naquele período era bastante precário e se baseava muito mais na observação de sinais físicos de que a criança apresentava déficit de habilidades sociais e comportamentais do que em testes mais elaborados.
Nesses casos, mesmo que a criança fosse alemã, os médicos do regime muitas vezes davam um destino cruel a elas. Não se sabe ao certo quantas morreram nas mãos do Nazismo, mas certamente foram milhares.
As crianças que não foram mortas eram esterilizadas ou usadas em experimentos científicos – muitos dos quais permanecem em mistério até hoje. As técnicas para matar as crianças envolviam a aplicação de injeções letais e outras práticas.
A participação do médico Asperger no regime nazista
O que muitas pessoas não sabem é que o médico pediatra Hans Asperger, mundialmente conhecido por diagnoticar e dar nome à Síndrome de Asperger, um dos graus do Transtorno do Espectro Autista, colaborava com o regime nazista e suas práticas assustadoras. É o que descobriram pesquisadores de uma universidade austríaca.
Historiadores reconhecem que Asperger e seus colegas focaram seus estudos e esforços em estimular o crescimento cognitivo e emocional de crianças que, segundo eles, apresentariam um quadro mais favorável de socialização. No entanto, o destino dado a casos mais graves de TEA era cruel.
De acordo com Herwig Czech, historiador na Universidade Médica de Viena:
“Asperger atuou para adaptar-se ao regime nazista e foi recompensado com perspectivas de carreira por suas manifestações de lealdade“.
Czech divulgou um estudo onde explica em detalhes como era a relação entre o famoso médico e o regime nazista. De acordo com ele:
“[Asperger] legitimou publicamente as políticas de higiene racial, incluindo as esterilizações forçadas, e cooperou ativamente, em várias oportunidades, com o programa nazista de eutanásia de crianças“.
Segundo os pesquisadores, a lealdade de Asperger a Hittler e ao Partido Nazista era explícita. O médico assinava seus diagnósticos fazendo reverência ao ditador. Também chegou a enviar crianças com características mais agudas de TEA ao hospital psiquiátrico Steinhof de Viena, onde morreram quase 800 crianças graças a políticas de higienização racial.
Ativo no regime, o pediatra Asperger fazia parte de uma comissão que avaliava crianças apontadas com algum grau de déficit no desenvolvimento cognitivo. O destino daquelas consideradas “não educáveis” era a morte. O médico avaliou mais de 200 crianças com essa finalidade.
Apesar de assustador e triste, é importante conhecer a história. A relação entre Asperger e o Nazismo é uma descoberta recente, feita em 2018 graças ao trabalho de Czech e historiadores que tentam juntar as peças do quebra-cabeça e entender como o regime nazista funcionava.
Outra obra importante que trouxe luz ao assunto é o livro Crianças de Asperger: As origens do autismo na Viena nazista, publicado também em 2018 pela historiadora Edith Scheffer.
O diagnóstico do autismo ao longo do tempo
Asperger teve grande importância nos estudos sobre o Autismo. O que não se sabia era que suas motivações tinham caráter obscuro. Ainda assim, são atribuídos ao médico uma série de estudos desde a década de 1940 sobre o comportamento de crianças que ele chamava de “fisicamente anormais”. Artigos importantes para as pesquisas sobre Autismo.
Outro nome importante sobre a história do diagnóstico do Autismo é o do médico austríaco Leo Kanner, que usou a palavra pela primeira vez em 1943 em seu artigo científico Autistic disturbance of affective contact.
Pouco se entendia sobre o Espectro Autista na época. Não se sabia que crianças com TEA possuem características diferentes e graus distintos de déficit. Tampouco haviam métodos humanizados de diagnóstico.
Durante boa parte da história da humanidade, crianças que apresentavam graus de TEA eram diagnosticadas como sofrendo de problemas psiquiátricos. Muitas eram internadas ou desenganadas pelos médicos.
A falta de conhecimento e de um diagnóstico que trouxesse luz e afastasse preconceitos acabou trazendo muito sofrimento para pacientes com Autismo e seus parentes ao longo de séculos.
Somente nas últimas décadas, sobretudo nos últimos anos, é que estamos debatendo cada vez mais a importância do diagnóstico de TEA e da orientação e acompanhamento de pacientes e pais.
Atualmente, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é complexo. Ele envolve a análise de uma série de questões na criança, como seu comportamento, sua interação social e possíveis déficits de fala, atenção, leitura, escrita e por aí vai.
Usando como base o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o TEA é diagnosticado quando houver três déficits na comunicação social e ao menos dois no comportamento repetitivo e restrito. O diagnóstico é feito em crianças a partir dos 3 anos de idade.
Psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e outros profissionais podem estar envolvidos tanto no diagnóstico quanto no acompanhamento desses pacientes.
O Transtorno do Espectro Autista é amplo e cada criança pode apresentar um conjunto diferente de sintomas, bem como da intensidade dos mesmos. Por isso, antes de mais nada, é fundamental que derrubemos os preconceitos que colocam todas as crianças com TEA no mesmo grau do transtorno.
O diagnóstico é muito particular – e deve ser assim! Cada criança apresenta um quadro único e deve ser tratada dentro de sua complexidade e seu próprio tempo. Isso mostra, acima de tudo, respeito.
Não podemos apagar a história, mas podemos aprender com ela. Que as crianças com TEA sejam cada vez mais acolhidas e respeitadas na sociedade e que o diagnóstico seja cada vez mais responsável e levando em consideração as particularidades de cada um.
A esperança pela cannabis
O uso da cannabis como tratamento medicinal ganhou holofotes nos últimos anos, especialmente pelos estudos que associam o poder dos canabinóides com a melhora do quadro de TEA de pacientes com sintomas mais graves do Transtorno.
De fato, a ação dos canabinóides nos receptores cerebrais pode trazer uma série de benefícios, sobretudo no que diz respeito a questões como agressividade, insônia e ansiedade.
De acordo com o estudo Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy (Experiência da vida real do tratamento médico com cannabis no autismo: análise de segurança e eficácia), publicado em 2019, 80% dos entrevistados que usaram cannabis no tratamento de pessoas com TEA notaram melhora ou desaparecimento completo de sintomas como agressividade, distúrbios de sono, inquietação e ansiedade.
Os pesquisadores concluem:
“A cannabis como tratamento para pacientes com Transtornos do Espectro do Autismo parece ser uma opção bem tolerada, segura e aparentemente eficaz para o alívio dos sintomas, principalmente: convulsões, tiques, depressão, inquietação e ataques de raiva. No geral, mais de 80% dos pais relataram melhora significativa ou moderada na avaliação geral da criança”.
Apesar de cada vez mais divulgado como um tratamento para ajudar crianças com TEA, o óleo de cannabis deve ser usado com moderação e após recomendação médica. Não são todos os pacientes que podem usar o óleo extraído da planta e o uso deve ser acompanhado de perto por profissionais da saúde, que vão acompanhar o quadro e ajustar a dosagem.
A automedicação e a autodosagem podem acabar trazendo um efeito contrário ao esperado, piorando alguns dos sintomas do TEA.
A planta pode não ter o efeito esperado em pacientes com a Síndrome de Asperger, por exemplo, um Transtorno Espectro Autista mais leve e com manifestação menos intensa de sintomas se comparada a pacientes com quadros mais graves de Autismo.
Portanto, converse com seu médico sobre a possibilidade de usar o óleo sull spectrum de cannabis como tratamento complementar para pacientes com TEA. É importante saber que essa possibilidade existe e que pode ser muito eficiente para o tratamento de alguns pacientes.
A Linha Canábica da Bá também está à disposição para esclarecer dúvidas sobre o assunto e até mesmo para indicar médicos com quem conversar a respeito.
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