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Mantenha seu conservadorismo longe da minha maconha

Hoje estou aqui para fazer um desabafo para vocês. Aliás, não só desabafo. Estou aqui para fazer um convite a todos que acreditam no poder da cannabis e lutam por um mundo menos preconceituoso: usem suas vozes! Mostrem ao mundo que somos muitos e estamos determinados!

É tão contrastante (e por vezes frustrante) comparar a maneira como outros países estão lidando com a maconha medicinal com a forma que o Brasil trata o tema. Só para se ter uma ideia, dados novos da consultoria especializada BDSA apontam que a maconha legalizada movimentou US$ 21,3 bilhões em 2020, alta de 48% em comparação a 2019.

Países como os Estados Unidos e o nosso vizinho Uruguai estruturam uma indústria da cannabis e levam a milhões de pacientes a possibilidade de um tratamento eficaz e descomplicado à base da maconha. No Canadá, o aumento percentual do uso da maconha medicinal foi de impressionantes 61% em 2020, graças à nova legislação federal que liberou também a venda de produtos à base de cannabis.

Enquanto isso, o Brasil patina. Associações e ativistas como eu precisamos constantemente aumentar nossas vozes para mostrar que não estamos calados e que somos capazes de fazer barulho em prol de um assunto que envolve a saúde e o bem-estar de milhões de brasileiros.

Não é segredo para ninguém que as coisas estão mais difíceis. Consequência de um governo conservador, mas também de uma população conservadora que se sente à vontade para destilar sua ignorância – mesmo que não tenham conhecimento sobre as reais propriedades da cannabis.

Tal cenário aflorou recentemente, com as discussões em torno do Projeto de Lei (PL) 399/2015. De autoria do deputado Fábio Mitidieri (PSD-SE), o texto original foi sofrendo modificações, mas no geral propõe a regulamentação do cultivo, processamento, pesquisa, produção e comercialização de produtos à base de cannabis tanto para fins medicinais quanto industriais. 

A pandemia do Coronavírus causou uma mudança nas prioridades dos deputados, não há como negar. Mas a situação se complica porque não há mais sequer um horizonte para que ocorra a votação – e os conservadores trabalham para que o projeto continue engavetado. Se a colocação do PL em pauta foi um avanço momentâneo, estamos prestes a regredir novamente.

Em outro ataque direto do conservadorismo aos ativistas, a Abrace (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança), organização que conecta pacientes à maconha medicinal, foi processada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5). Felizmente, a associação pôde continuar com seu trabalho graças a liberação dada pelo desembargador federal Cid Marconi Gurgel de Souza.

Todas essas notícias me fazem questionar como é possível reagir sem se frustrar. A raiva é um sentimento natural para quem luta pela cannabis pois a gente sabe o quanto a planta pode ajudar as pessoas e como o proibicionismo é movido por ignorância.

E estamos falando de um medicamento natural! Uma alternativa 100% orgânica que cada vez mais estudos já provaram que atua beneficamente contra uma série de enfermidades. Um medicamento que poderia ser barato e representar a melhora de vida de milhões de pessoas está sendo impedido de ser usado por pura ignorância!

Aliás, não só ignorância. É impossível falar sobre esse assunto sem mencionar o papel da indústria farmacêutica neste cenário. Grandes corporações atuam fortemente contra a cannabis por se sentirem ameaçadas e também porque querem ganhar tempo para se estruturar e tentar transformar um mercado de associações e ativistas em um mercado de grandes indústrias. Contra isso lutarei sempre!

O princípio da luta pela cannabis é trazer qualidade de vida às pessoas. A maconha é uma planta milenar que há muitos séculos é usada tanto para fins medicinais quanto religiosos e recreativos. Não é uma erva qualquer, é uma planta carregada de história e simbolismo.

Maconha representa união, paz e igualdade! A luta para vencer os estigmas que rondam a planta e possibilitar que todos tenham acesso a ela é amparada por esses pilares.

Estamos sim em uma guerra. O Brasil está polarizado, o mundo está dividido. Conservadores não baixarão a guarda, mas nós também não. A diferença é que nós ativistas, pacientes e apoiadores da causa temos o amor e o propósito do nosso lado. O propósito de transformar vidas! Por isso eu repito: usem as suas vozes! Não se calem diante desse mar de conservadores.

Juntos somos mais fortes.

 

Barbara Arranz

Biomédica, especilista em terapia canabinoide e psicodélica, habilitada em acupuntura e análises clínicas e pós graduada em cosmetologia e desenvolvimento de novos projetos pela Uniara, atualmente vivo em Madri. Mulher, mãe atípica, ativista, educadora e empreendedora.

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