Gerar um filho é momento único na vida de uma mulher. Às vezes isso acontece de maneira planejada, mas em 55% dos casos (dado da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz), a gravidez acontece sem planejamento.
Quando a notícia de que a mulher vai ser mãe chega, ela se vê diante de uma série de mudanças e escolhas que precisarão ser feitas visando o seu bem-estar e também do bebê que está sendo gerado.
Para muitas futuras mães, a decisão sobre consumir ou não cannabis durante a gravidez também é colocada em xeque. A planta pode fazer mal para a geração do bebê? E para a mãe, há algum perigo considerando que o corpo da mulher muda muito durante esse período?
Alguns estudos sobre uso da cannabis durante a gravidez foram conduzidos e outros estão em andamento. Apesar disso, o volume de produção científica sobre o tema ainda é baixo. O objetivo desse artigo é mostrar o que já se sabe para que a mulher tenha maior embasamento na hora de fazer uma escolha.
Cannabis na gravidez: o que a ciência diz?
Os estudos sobre os efeitos da cannabis na gravidez ainda são escassos e há a necessidade de conduzir muito mais pesquisas para descobrir como essa planta tão poderosa age no organismo de gestantes.
A médica do SUS, Dra. Alice Weber, explica que a questão ainda está em fase muito inicial de estudos, sendo que os cientistas não conseguem dizer com propriedade a partir de qual quantidade de cannabis ela eventualmente passaria a ser prejudicial para o feto. “Não sabemos se existe uma quantidade limite para um uso seguro de cannabis, sabemos que os efeitos podem ser mais prejudiciais quando o consumo é feito em doses altas, mas não é certeza que consumir pouco também não pode ser prejudicial”, explica.
A Dra. Alice explica ainda que os médicos notam uma tendência de os bebês de mães que fumaram cannabis durante toda a gestação apresentarem baixo peso.
O que se sabe é que a cannabis tem um grande papel no sistema nervoso. Nosso cérebro possui os receptores CB1 e CB2 que juntos formam o Sistema Endocanabinóide e reagem aos canabinóides da maconha. É essa reação que ajuda a explicar o poder medicinal da maconha no tratamento de muitas doenças como epilepsia e autismo.
No entanto, a ingestão de canabinóides durante a gestação pode comprometer a formação do sistema nervoso do bebê, que ainda está desenvolvendo o cérebro e os receptores cerebrais, inclusive o CB1 e CB2. “O CB1 regula a implantação do blastocisto, que seria o início do embrião. A partir desses receptores, o embrião forma o sistema nervoso”, complementa a Dra. Alice.
Além disso, na gestação, a interação entre os canabinóides endógenos e exógenos podem ser prejudiciais para a formação neuronal do feto. Isso porque os canabinóides endógenos são os que regulam a produção de glutamato, já os canabinóides exógenos podem neutralizar essa funcionalidade e com isso interferir no desenvolvimento neuronal do feto.
É por isso que o Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas recomendou explicitamente que mulheres grávidas e mães que amamentam interrompam o uso da cannabis nesse período. Apesar de reconhecerem os benefícios medicinais da maconha, os médicos em questão fizeram a recomendação por não haver estudos suficientes para mostrar se é seguro para a mãe e o bebê usar maconha durante a gravidez.
Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association analisou os dados contidos no Ontario Better Outcomes Registry & Network. Os pesquisadores avaliaram as informações de cerca de 661 mil mulheres canadenses que deram à luz com pelo menos 20 semanas de gestação, entre abril de 2012 a dezembro de 2017. Desse total, 5.539 mulheres fumaram maconha durante a gravidez.
Os resultados dessa análise estatística mostraram que o uso da cannabis na gravidez aumentou o número de partos prematuros (10,2% entre as fumantes contra 7,2% entre as que não fumaram); aumentou também os casos de descolamento prematuro de placenta, que foram de 6,1% entre as mães fumantes de cannabis contra 4% entre as não fumantes.
Como você pôde perceber, dentre as análises disponíveis, há uma preocupação dos médicos quanto ao uso da cannabis na gravidez, especialmente no que diz respeito à formação do feto. Antes de tomar qualquer decisão, é importante conversar abertamente com um ginecologista obstetra da sua confiança e levar até ele as dúvidas que possa ter.
A relação da grávida com a cannabis
Para muitas mulheres, usar cannabis não é apenas um meio de ficar “na brisa”. Trata-se de uma filosofia de vida, um momento íntimo e uma oportunidade para aflorar o autoconhecimento. É por isso que a decisão sobre interromper ou não o uso da planta durante a gravidez pode levar a mulher a longos períodos de debate interno.
A partir do momento que uma mulher toma consciência de que está gerando outra vida, ela passa a se sentir responsável por ela e pelo feto que está sendo gerado. Tudo o que ela faz pode ter consequência para a criança que está para nascer, inclusive o ato de fumar.
Há mulheres que decidem interromper o uso da cannabis durante a gravidez, sem que isso signifique de forma alguma que elas estão cortando suas relações com a maconha. É apenas uma escolha momentânea que levou em consideração aquilo que a mulher julgou ser o melhor para ela e para o bebê.
Outras decidem não interromper o uso, mas diminuir a frequência. E há aquelas que decidem manter o uso regular da cannabis mesmo durante a gestação. São escolhas individuais e que cada mulher deve tomar sozinha ou em conversa com seu parceiro.
Como biomédica e cientista que estuda a cannabis há anos, eu não incentivo o uso da cannabis durante a gestação e também durante a amamentação. Os riscos que a planta pode trazer para o bebê superam os possíveis benefícios nessa fase em específico. Como eu disse anteriormente, a escolha final é da mãe, mas interromper provisoriamente o uso da cannabis não significa abandonar a planta. É apenas uma escolha momentânea visando a saúde do bebê.
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