No dia 19 de abril é celebrado o Dia do Índio. A data, também chamada de Dia dos Povos Indígenas, é lembrada no Brasil e em vários outros países do continente americano. Por muito tempo ela foi um símbolo dos estereótipos em relação a esses povos, com uso de roupas tradicionais descontextualizadas em “fantasias”. É por isso que hoje utilizaremos a data como espaço de reflexão.
Você sabia que a relação entre povos indígenas e a cannabis é antiga? A planta era usada para fins medicinais e terapêuticos muito antes de vir a ser proibida.
No Brasil colonial, os maiores consumidores e produtores de cannabis eram justamente os povos indígenas e os negros escravos – ambos mantendo uma relação muito próxima com a planta. Aliás, estudiosos dizem que a maconha não é uma espécie nativa do Brasil, e que provavelmente foi introduzida no país ainda no século XVI pelos escravos africanos.
Sabia, por exemplo, que o Brasil já passou por períodos em que a cannabis era livremente comercializada (e até anunciada em jornais) como uma planta medicinal? O jornal O Estado de São Paulo, popularmente conhecido como Estadão, já veiculava anúncios de medicamentos à base de cannabis lá no final do século XIX!
Um dos produtos mais populares nessa época eram os Cigarros Índios (Cigarrettes Indiennes) feitos com a Cannabis Indica. Apesar do nome, esse produto não tinha relação com os povos indígenas e era produzido por um laboratório francês. Acompanhe detalhes dessa curiosa parte da nossa história a seguir.
Cigarros Índios: maconha medicinal no século XIX
Os Cigarros Índios eram produzidos e comercializados pelo laboratório francês Grimault & Comp. Eles se tornaram rapidamente populares no Brasil entre o final do século XIX e início do século XX. Nas sessões de comentários do jornal Estadão, choviam relatos de leitores contando suas experiências positivas ao usar os Cigarros Índios.
Esses cigarros eram recomendados para tratar problemas respiratórios como asma, bronquite e tosse, além de promover o relaxamento e ajudar a combater a insônia. Interessante notar que a ciência moderna está estudando a fundo a maconha e já encontra amparo científico que mostra que a planta realmente é eficaz no tratamento dessas doenças.
Na época, doenças respiratórias eram muito temidas pela população e não raras vezes levavam à morte. Observe o relato de um leitor, publicado em 7 de junho de 1900 no Estadão:
“A rouquidão, a tosse nervosa, a asthma [asma], já não assustam como dantes, as pessoas que padecem desses males, pois que basta aspirar o fumo dos Cigarros Índios de Grimault & Companhia para sentir alívio immediato”.
O nome Cigarros Índios se devia ao fato de o principal insumo do produto ser a Cannabis Indica, variedade altamente associada ao uso medicinal naquele período. Os cigarros da Grimault tinham um preço mais “salgado” do que se você comprasse de algum produtor conhecido ou das famosas “casas de ervas”.
Porém, para as classes mais abastadas e discretas, o preço alto compensava pela praticidade de simplesmente ir à farmácia, diferente da maior parte da população negra que tipicamente cultivava a erva em roçados e jardins.
O mais curioso disso tudo é que perceber que a cannabis era tratada como uma erva medicinal na época, e que não existia um grande estigma sob a planta. A situação mudou algumas décadas depois, em 1938, quando a planta passou a ser considerada entorpecente e o Brasil e a maioria dos outros países mudaram completamente a maneira de tratar a cannabis.
Após décadas de preconceito e uma guerra infundada, a maconha está de volta ao foco de muitos estudos sobre suas propriedades medicinais. Propriedades essas que a história mostra que já eram aproveitadas há séculos.
Tanto os escravos africanos quanto os povos indígenas brasileiros têm um papel importante na história da cannabis no Brasil. Muito antes de os cigarros à base de maconha se tornarem populares na medicina, esses povos já aproveitavam os benefícios da cannabis e passavam essa cultura de geração em geração.
Por que dia 19 de abril é dia do Índio?
A data foi escolhida pelo Brasil e por diversos países americanos por causa de um evento especial: o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que aconteceu em 19 de abril de 1940.
Na data, representantes indígenas de países como Brasil, Chile e México se reuniram para discutir a situação dos povos indígenas em seus respectivos países e como a colonização tinha afetado suas populações.
O Congresso teve grande importância e repercussão, contribuindo para levar o debate sobre a preservação e os direitos dos povos indígenas até as esferas governamentais, trazendo ao centro da questão discussões sobre a importância da criação de políticas públicas de proteção a esses povos.
Na época, o então presidente Getúlio Vargas instituiu o dia 19 de abril como o Dia do Índio. No entanto, uma legislação específica para proteção dos povos indígenas só surgiu décadas depois, em 1973, quando a lei L6001, conhecida como Estatuto do Índio, foi aprovada e entrou em vigor.
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