Muitos cientistas ao redor do mundo estão se dedicando a estudar a cannabis, seus efeitos no organismo e suas vantagens para o tratamento de diversas enfermidades. Desses tantas pesquisas está um estudo clínico da Universidade de Sydney, na Austrália, que está testando o poder do óleo de cannabis para ajudar pacientes com câncer que estão enfrentando um tratamento quimioterápico.
O estudo é financiado pelo governo do estado da Nova Gales do Sul, onde fica a cidade de Sydney. Foram investidos AUD 21 milhões na pesquisa, que recebeu o nome de CannabisCINV. Para o estudo, foram recrutados 81 voluntários, todos pacientes enfrentando um câncer e passando por tratamento oncológico. Os primeiros resultados dessa pesquisa você confere a seguir.
Cannabis reduz os efeitos negativos da quimioterapia
O estudo conduzido pelos médicos da Universidade de Sydney apresenta resultados animadores. Parte dos pacientes recebeu cápsulas com óleo contendo quantidades iguais de CBD e THC e outra parte recebeu apenas placebo.
Os primeiros resultados mostraram que 25% dos pacientes que receberam o óleo pararam de sentir náuseas e vômitos. Isso representa um quarto dos pacientes!
“Náuseas e vômitos estão entre as consequências mais angustiantes e temidas da quimioterapia”, disse o pesquisador-chefe do estudo, o Dr. Peter Grimison. Além de professor associado da Universidade, Grimison também é oncologista médico da Chris O’Brien Lifehouse.
Os resultados foram publicados na revista científica Annals of Oncology. 78% dos voluntários para o teste são mulheres e a idade média dos pacientes é de 55 anos.
As cápsulas usadas no estudo contêm 2,5mg de THC e 2,5mg de CBD. Nesta fase, os cientistas optaram por usar apenas esses dois canabinóides e em quantidades iguais pois acreditam que assim os riscos do estudo seriam reduzidos.
O estudo da Universidade de Sydney abre portas para que outros estudos sejam conduzidos, com diferentes miligramas de THC e de CBD, além da adição de outros canabinóides. Agora que o cientistas já possuem mais embasamento para dizer que os componentes da cannabis atuam contra náuseas e vômitos, é uma questão de ajustar dosagens e testar novos canabinóides para encontrar cápsulas ainda mais eficientes contra esses sintomas da quimioterapia.
Os pesquisadores à frente do estudo CannabisCINV não param e já organizam a próxima fase da pesquisa, que vai recrutar 171 pacientes e testar novas combinações e dosagens de compostos da cannabis.
Por que a maconha medicinal é eficaz?
Para entender porque a cannabis medicinal é tão poderosa é preciso antes saber que a planta contém mais de 400 componentes químicos, muitos deles exclusivos da maconha – os canabinóides. THC e CBD, por exemplo, são canabinóides.
A questão é que no começo da década de 1990, cientistas descobriram que nosso corpo possui um par de receptores (CB1 e CB2) que reagem aos componentes da cannabis. A esse par de receptores foi dado o nome de Sistema Endocanabinóide.
O receptor CB1 é encontrado em nosso sistema nervoso, e é responsável por enviar comandos a regiões cerebrais. Já o receptor CB2 tem efeito no sistema imunológico, ossos e células adiposas. É por isso que usar o óleo de cannabis tem tantos efeitos positivos em nosso organismo, porque há receptores espalhados pelo corpo cujas funções são ativadas quando ingerimos os canabinóides.
Já se sabe que os receptores CB1 e CB2 podem atuar em diversas funções, ajudando a controlar a atividade elétrica excessiva do cérebro (convulsões), melhorando quadros de epilepsia e crises comportamentais causadas por elevados graus de Autismo. Podem ainda ajudar a tratar dores crônicas e espasmos musculares, além de atuarem como regulador de metabolismo e promotores do aumento de apetite.
Quanto mais estudos são feitos com a cannabis, mais se descobre sobre seus poderes. Muitos estudos, como o da Universidade de Sydney, são realizados com apenas alguns canabinóides isolados. Mas como pesquisadora e ativista da cannabis, eu acredito que a melhor maneira de fazer uso da maconha medicinal é tomando o óleo full Spectrum, ou seja, aquele que conserva todos os mais de 400 componentes da planta.
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o óleo de cannabis não causa efeitos psicoativos. A dosagem de THC presente é controlada de modo a preservar os benefícios do canabinóide sem desencadear efeitos psicoativos.
Onde posso encontrar o óleo de cannabis no Brasil?
Importar o óleo de cannabis é caro e burocrático. Além do elevado valor a ser investido, o paciente ainda precisará lidar com questões legais que podem barrar seu acesso ao óleo medicinal.
O Brasil dispõe de associações sem fins lucrativos que produzem o óleo e distribuem para seus associados. Mas elas ainda são poucas e a fila de espera costuma ser longa.
Em Brasília, o congresso nacional está discutindo a estruturação de uma cadeia de produção de medicamentos à base de cannabis que envolve inclusive a distribuição via SUS. Mas o projeto em questão, de autoria do deputado Paulo Teixeira, ainda está em fase inicial de discussões e articulações. Falta muito para virar lei, isso se for aprovado.