Uso de Cannabis, aromaterapia com terpenos e mais!
Estive à frente de um estudo pioneiro no Brasil relacionando o uso de fitocanabinóides para ajudar a melhorar o quadro de pacientes com Covid-19 que passam pelo processo de extubação (retirada dos tubos de ventilação mecânica).
O estudo está sendo realizado junto a médicos de 6 unidades de terapia intensiva e busca usar fitocanabinoides da maconha para ajudar pacientes que lutaram contra a Covid-19, saíram da ventilação mecânica e precisam concluir o processo de quebra da dependência química causada pelos fortes medicamentos usados durante o período de intubação.
A pesquisa tem como objetivo mostrar como doses de fitocanabinoides ministradas em pacientes pós-Covid podem atuar diretamente nos receptores do sistema nervoso e ajudar a romper a dependência química a opióides e outros medicamentos que se fizeram necessários durante a intubação. Falaremos mais sobre esses medicamentos ainda nesse texto.
Não é só no Brasil que esse tipo de pesquisa está sendo feita. Um estudo americano chamado Tratamento com canabidiol para infecção pulmonar grave e crítica por coronavírus (COVID-19) também está analisando como o fitocanabinóide CBD (Canabidiol) pode ajudar pacientes com Coronavírus que estão em estado grave.
Em andamento desde o fim de janeiro, os primeiros resultados do estudo são animadores:
“O canabidiol (CBD) possui potentes propriedades antiinflamatórias e imunossupressoras. Esses efeitos são mediados pelo atrito das células T e pela inibição da liberação de citocinas pró-inflamatórias. Em uma série de estudos de fase 2 envolvendo mais de 100 pacientes, nosso grupo foi capaz de mostrar a segurança e eficácia do CBD na prevenção e tratamento da doença (Covid-19)”.
Mas para facilitar o entendimento, você sabe o que é intubação, extubação e quais medicamentos são usados nesse processo? Confira!
O que é intubação e extubação em pacientes com COVID-19?
A intubação acontece quando a doença causada pelo Coronavírus afeta os pulmões a ponto de não permitir que eles funcionem corretamente. Começa aí um processo de inserção de tubos ligados a um aparelho que fará a função de pulmão enquanto o paciente estiver debilitado.
Para permitir que esse processo seja feito sem rejeição pelo organismo e com o mínimo de desconforto possível para o paciente, uma série de medicamentos são usados. É o chamado kit intubação, composto por anestésicos, bloqueadores neuromusculares e sedativos.
Sedativos como Midazolam e Propofol são exemplos de medicamentos usados nesse processo. Além deles, analgésicos de alta potência, como Fentanil e Cetamina, também são usados. Soma-se a essa lista compostos como Metadona e Oxicodona, opióides da família da Morfina, que também podem ser opções durante a intubação. Tais substâncias podem acabar gerando dependência química quando usadas a longo prazo, sobretudo o Fentanil.
Por fim, substâncias como a Succinilcolina ou o Rocurônio são usados para relaxar os músculos e evitar que o organismo queira expelir o tubo, além de reprimir reações como náuseas e enjoo.
Quando o paciente vence a Covid-19 e recupera a força dos pulmões, é hora de retirar os tubos de ventilação mecânica e começar o processo para que os pulmões voltem a respirar por conta própria. É o que chamamos de extubação.
A extubação é aconselhada após os médicos avaliarem que o paciente atende a critérios estipulados pelo Ministério da Saúde. Um desses critérios é o restabelecimento de parâmetros ventilatórios controlados, que devem marcar FiO2 < 40% e PEEP<8. Para analisar se o quadro do paciente é favorável à extubação, são realizados exames como ultrassonografia pulmonar, cardíaca e diafragmática.
A grande questão do momento pós-Covid é que, quanto mais tempo o paciente passou intubado recebendo medicamentos como o Fentanil, maiores as chances dele desenvolver problemas que vão requerer acompanhamento pós-extubação, inclusive a dependência química ao medicamento.
Tais problemas podem incluir ainda lesões glóticas ulceradas, paralisia das pregas vocais e atrofia muscular.
A pesquisa realizada por mim, Bárbara Arranz (à frente da Linha Canábica) junto às UTIs, tem como principal objetivo ajudar pacientes recém entubados a usarem o poder dos fitocanabinóides da cannabis medicinal em sua recuperação, rompendo a dependência química criada nesse período.
Pesquisando sobre o assunto, percebi que o uso de Terpenos de cannabis e da aromaterapia a partir desses compostos também vem sendo foco de estudos científicos em pacientes com Covid-19 e podem trazer resultados animadores. Vamos entender melhor o que está sendo estudado.
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Uso de terpenos de Cannabis no tratamento de pacientes com COVID-19
Os terpenos são compostos naturais voláteis presentes nas plantas, inclusive nas variedades de Cannabis, e que contêm apenas átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Tais substâncias atuam como quimioatraentes ou quimiorepelentes, sendo responsáveis por uma série de funções importantes, inclusive as fragrâncias das plantas.
Mas as propriedades dos terpenos vão muito além dos aromas. Eles ajudam na proteção das plantas, reprodução e como repelente de agentes indesejados. Quando extraídos, podem ajudar o ser humano em uma série de frentes, com suas propriedades antiinflamatórias, analgésicas, antimicrobianas e antivirais.
Sim, os terpenos podem atuar contra vírus! Diversos estudos ao redor do mundo apontaram eficiência desses compostos contra o vírus da herpes simplex, o vírus da bronquite, o vírus do Nilo Ocidental e até mesmo o vírus da imunodeficiência humana 1 (HIV- 1).
Sabendo que os terpenos poderiam atuar contra uma série de vírus, pesquisadores israelenses publicaram um estudo chamado Avaliação in vitro da atividade de terpenos e canabidiol contra o coronavírus humano, onde buscaram avaliar se esses compostos presentes na cannabis seriam úteis para ajudar pacientes infectados pelo vírus da Covid-19. Os resultados são animadores!
Para realizar o estudo, foi usada uma nova formulação à base de terpeno, de codinome NT-VRL-1, contra a cepa 229E do Coronavírus Humano. Essa formulação foi testada em fibroblastos de pulmão humano (células MRC-5), com e sem a adição de canabidiol (CBD). Os principais componentes dessa formulação de terpeno usada para o experimento foram beta-cariofileno, eucaliptol e citral.
Os resultados apontaram o seguinte:
“A formulação testada exibiu um efeito antiviral quando foi pré-incubada com as células hospedeiras antes da infecção do vírus. A combinação de NT-VRL-1 com CBD potencializou o efeito antiviral melhor do que os controles positivos pirazofurina e glicirrizina”.
De acordo com os cientistas, esse é o estudo que testa uma combinação de terpenos e CBD contra um coronavírus. O artigo foi publicado em março de 2021 na revista científica Pharmaceutical Science.
O artigo conclui:
“Os resultados demonstram que o efeito antiviral do NT-VRL-1 foi mais efetivo no sistema de pré-tratamento, o que pode indicar que o efeito antiviral dos compostos é baseado na prevenção da entrada viral”.
Mais estudos precisam ser conduzidos antes da formulação de medicamentos antivirais à base de terpenos de cannabis. Mas é animador saber que a maconha pode contribuir para a criação de um medicamento que ajude a prevenir a Covid-19. Se isso se concretizar, será um marco sem precedentes!
Os cientistas que participaram do estudo apontam qual seria a melhor maneira de introduzir os terpenos nos pacientes:
“Como os pulmões são os órgãos mais afetados pela COVID-19, o tratamento preventivo direto aos pulmões, possivelmente por inalação, seria a via de administração ideal para essa potencial solução terapêutica”, diz o artigo.
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Inalação de terpenos na UTI?
Está em estudo também o uso de óleos essenciais de terpenos para realizar inalação em pacientes extubados e, dessa maneira, ajudar a eliminar as secreções após a extubação. Essa técnica ligada à aromaterapia poderia ser usada tanto por pacientes extubados pós-Covid quanto aqueles que foram intubados por outros motivos.
De acordo com o pesquisador Henneman, a aromaterapia pode ainda melhorar o humor dos pacientes e da equipe de enfermagem. O mais interessante é que essa terapia complementar não tem contra indicações.
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